Político japonês denuncia censura silenciosa de operadoras de pagamento em jogos

O ex-deputado japonês Zenko Kurishita trouxe à tona uma prática que, segundo ele, já ocorre de forma silenciosa no Japão há pelo menos três anos: a censura indireta de jogos através de restrições impostas por operadoras de pagamento, como Visa e Mastercard. O tema ganhou mais atenção recentemente após a remoção de títulos de plataformas como Steam e itch.io, mas Kurishita afirma que a tática já vinha sendo aplicada de maneira velada há bastante tempo.
Em entrevista ao site Denfaminicogamer, o político explicou que o movimento começou em plataformas de conteúdo adulto, como a DLsite, e aos poucos se expandiu para outros mercados de games. O aspecto mais alarmante, segundo ele, é a falta de transparência nos critérios adotados pelas empresas financeiras.
“As operadoras como Visa e Mastercard não compartilham seus princípios reais e parecem preocupadas apenas com suas próprias reputações”, afirmou Kurishita. Ele reforça que o público em geral sequer tem acesso às regras que levam à exclusão de determinados conteúdos, o que dificulta qualquer tipo de resistência organizada.
Estrutura difusa e sem responsáveis claros
De acordo com o ex-deputado, os estúdios e distribuidoras recebem ultimatos repentinos, geralmente com prazos muito curtos e sem possibilidade de negociação. O processo raramente vem diretamente das bandeiras de cartão, mas de intermediários como adquirentes e processadores de pagamento, criando uma rede de responsabilidades que se dilui propositalmente.
“De pessoas com quem conversei em várias plataformas, elas são simplesmente informadas de repente: ‘A partir da próxima semana, você não poderá mais usar nossos serviços [de pagamento].’ E isso nem é comunicado diretamente pela Visa ou Mastercard”, relatou. Ele acrescenta que, ao mesmo tempo em que criam as regras, as operadoras negam envolvimento direto, delegando a aplicação para terceiros.
Essa fragmentação, segundo Kurishita, gera um ambiente onde ninguém assume responsabilidade, tornando impossível saber quem está ditando as normas e quais interesses estão por trás das decisões. “Essa incerteza é a parte mais assustadora, e a essência do problema”, alertou.
Possíveis soluções
Para o político, enfrentar o problema exige conscientização pública e diversificação de métodos de pagamento. Ele acredita que os jogadores precisam entender que qualquer tipo de conteúdo pode ser alvo dessas restrições, não apenas jogos adultos ou de nicho. Já as empresas, por sua vez, devem buscar alternativas para reduzir sua dependência de Visa e Mastercard, evitando que mudanças repentinas em políticas internas comprometam seus negócios.
A denúncia de Kurishita reforça uma preocupação crescente entre desenvolvedores: a de que restrições financeiras se tornem uma forma indireta de censura, onde a ausência de regras claras e de responsáveis identificáveis cria um cenário de vulnerabilidade.
Fonte: Automaton-Media